
A alma dos lugares
Quando eu cheguei, apesar do cansaço, sabia que ali era um lugar diferente: não me apareceu aquela figura robótica que setencia que qualquer parte do dia deverá ser boa (seja bom dia, boa tarde ou boa noite). Ao contrário, quando dei por mim já estava uma senhora baixinha, de touca e avental, tirando minha mala do táxi e pedindo que eu esperasse um pouco para ela pegar a chave do meu quarto. Perguntei rapidamente onde podia comer qualquer coisa e como conseguir um transporte para o centro da cidade. Alimentada numa padaria próxima do hotel, em uma hora havia um carro a minha disposição para me levar ao centro. Da. Dora me surpreendeu com aquela eficiência toda que vim a saber depois que visava apenas não acrescentar mais nenhuma marca de cansaço além das que já carregava no meu rosto.
Gosto de recomendar para todos tudo aquilo que de alguma forma me chama atenção, o que, necessariamente, não significa ser belo, luxuoso ou confortável. Mas o Hotel Natur Campeche se encaixa sob medida na expressão “Tudo de bom!”. O lugar é encantador no físico e na alma da Da. Dora que cuida de tudo e todos que por ali chegam. Quem olhar distraidamente para ela, provavelmente não terá uma primeira impressão que chegue perto da simpatia. Mas basta puxar uma conversa, ou comentar um detalhe, que aquele semblante sério se desfaz em largos sorrisos. É uma daquelas pessoas que por recomendação da própria vida, aprendeu a prudência de primeiro assuntar para depois saber o grau de interação a oferecer.
Meu quarto ficava no andar de cima e da varanda era a visão da Da. Dora o tempo todo, indo e vindo, atendendo alguém, estendendo a roupa branquinha no varal, cuidando dos pedidos de uns e de outros, ralhando com os jovens que deixaram o telefone fora do gancho… Administrando enfim aquele Hotel simpático com seus doze quartos que se revesavam em habitantes a cada temporada, de período em período. Da. Dora no centro do movimento, comandando a possibilidade de bem servir, considerando os limites que sempre existem.
Mora no Hotel mesmo que é para atender os que chegam na noite alta. Mora no Hotel mesmo porque dispensou o marido que só dava trabalho e foi cuidar da sua própria vida. Mora no Hotel mesmo porque assim a filha vem de tempos em tempos ficar perto dela, ou perto da praia… mas tanto faz desde que esteja perto dela.
Obrigada Da. Dora pela acolhida, pelas flores cuidadas por todo o Hotel, pela vontade que ficou em mim de voltar uma outra vez e ficar conversando com a senhora, ouvindo as muitas histórias que tem para contar…..

2 Comentários
Tania
Lugarzinho simpático, hein? Sempre consigo me admirar com a simplicidade e objetividade que muitas pessoas conseguem aplicar à vida. Diabos, não seria melhor assim? Beijos
Brotosaurus
Bem no estilo de quem conheço: “Caramba!!!”.
Muito bom mesmo.